O Rei Leão
“Há
mais coisas entre o céu e a terra do que possa sonhar nossa vã filosofia.” (William
Shakespeare).
Assim fez Shakespeare no
seu tempo e nos revela na atualidade a aurora dos sonhos que combinam cores,
formas, texturas, cheiros, sabores... Esse universo lúdico e palpável foi me
revelado, mais uma vez, na noite do dia 23 de março. Um caleidoscópio mágico e fantástico que é a Opera o Rei Leão, no Teatro Renault no coração de São Paulo.
Isso mesmo! Fui presenteado com dois ingressos, em um sorteio, da Ação Comunitária para prestigiar a Opera. A Ação Comunitária divulgou sua promoção
no Facebook; eu curti, compartilhei a promoção e assim recebi a noticia do Prêmio.
E que Prêmio! Agora estou eu aqui falando a quem quiser sobre minha vivência após
assistir a essa brilhante Opera. Fiquei lisonjeado e grato, pois o que
descreverei aqui me faz retomar os trilhos de minhas convicções artísticas e
esperanças arte-educativas junto a inúmeros jovens da periferia de São Paulo na
qual estou educador do Programa de Preparação Para o Trabalho – PPT. Jovens
estes que me abraçam com seus olhos havidos de conhecimento, troca, ternura e
respeito. Assim foi como me senti ao ver a Opera Rei Leão: abraçado!!!
Muitos não sabem, mas o
Teatro Renault, antigo Teatro Abril tem um historia de sucesso. Inaugurado em
1929, com o primeiro nome de cine-teatro Paramount, se tornou um ícone na
cultura de São Paulo e de todo o Brasil, foi o primeiro na América Latina a
passar filmes com imagem e som, sem contar, que já foi palco de apresentações
memoráveis como as de Nat King Cole, Louis Armstrong e Maurice Chevalie e
muitos nomes da musica brasileira como Edu Lobo, Capinam, Caetano Veloso,
Roberto Carlos e Tom Zé. Mesmo com o incêndio em 1969 e diversas interdições
não deixou de ter sua vida artística pulsante e aberta ao público. Hoje esse
histórico prédio tem o apoio da Renaut e chama-se Teatro Renaut com área total
de 5.500
metros quadrados , capacidade para 1.530 lugares, com
palco com 210
metros quadrados por 36 metros de altura. A
primeira grande estréia do novo nome, Teatro Renault acontece com a Opera “O
Rei Leão”, a maior bilheteria da Broadway já visto por mais de 65 milhões de
pessoas em todo o mundo.
Assim fui ao Teatro
Renault, com minha calça jeans surrada, um tênis e blusa de algodão, sentei e
comecei a observantes e notar detalhes de um teatro lindíssimo e muito bem
estrutura com uma equipe técnica dando total suporte e conforto ao público; que
diga-se de passagem lotou a noite e deu seu brilho aparte emocionando-se e
interagindo a cada ato com os atores, orquestra, dançarinos e percussionistas.
Todos nós ali sentados reencontramos nossa criança interior, retomamos a
fotografia viva de nossa infância. As quase quatro horas de espetacularidade da
Ópera nos fazia pedir biss!!! Como uma deliciosa sobremesa na casa de amigos. O
Teatro Renault, a Equipe de Direção da Opera, a platéia e todo o Elenco criavam
e estabelecia a cada momento um ambiente aconchegante entre amigos e essa
grande família: uma comunhão do sonhar coletivamente. Do desejar o reencontro
com a esperança. Assim começava o espetáculo: A África brotando do canto de
Rafiki Ensemble, da dança de apresentação e dos interpretes surgindo da plateia
como um passe de mágica, convidando todos a participarem do nascimento não
somente do jovem leãozinho Simba, mas da alegria do viver.
“A África já não estava
longe...” relembrava Picasso se entretendo com o rico imaginário que permeia
esse grande continente. Me via sendo levado ao palco junto com Picasso e toda
aquela bicharada. Embarcamos todos em um grande navio e cada detalhe observado
pelos olhos atentos do público nos fazia atracar e repovoar nossa viva ancestralidade
afro-brasileira. Quem lembrou do desenho da Disney, viu sendo impecavelmente
encenada a épica aventura de Simba. Cenas difíceis como a debandada de gnus e a
conversa com o espírito de seu falecido pai foram muito bem realizadas em palco. Nada ficou a
desejar.
O palco abrigou em seu
fosso a singela orquestra dirigida pela maestrina brasileira Vânia Pajares, que
abrilhantou cena a cena, esperando, pontuando ou indo de encontro e não de
confronto as sensações e ritmias de atores, dançarinos, luz, movimentação dos
cenários, painéis e também não menos importante, na espera da platéia aplaudir
e se emocionar. Essa é uma marca de uma orquestra viva e harmônica com o todo
das cenas: músicos afinados não somente com seus instrumentos pessoais, mas com
um todo desta rede do sonhar coletivamente.
A cenografia ampliava toda
interpretação dos atores, dando cada ato maiores e melhores potencialidades, proporcionando
não somente aos interpretes um espaço produtivo e pulsante, mas um mundo vivo
em que as marcações tecnicamente existente desapareciam dando espaço a
naturalidade das ações. O publico foi a cada passo se envolvendo com detalhes
da cenografia; surpreendendo-se com a savana, a relva que entrava rasteira,
palcos que subiam ou enladeiravam-se formando a Rocha do Reino com seu ritmo e
entrada imponente. Beleza também nos telões/painéis que desciam em seu ritmo
próprio, cor e confluência, trazendo dinamismo as cenas, nas entradas e saídas
dos atores, nas passagens do tempo e dividindo muitas vezes o palco em espaços
simultâneos em que dançarinos e atores pintava cada quadro. Destaque também
para a cenografia do reino sombrio das hienas, que poderia se perder no exagero
de carros alegóricos de escolas de samba, mas que abrigava espaço riquíssimo
para o universo do antagonista. Aqui me permiti em um flash o desejo de saber,
compreender e participar da montagem, desmontagem, transporte e manutenção dessas
tantas peças cenográficas. Existe um universo de profissionais por trás que
criavam outra Opera! Outro espetáculo! Coordenador de palco, eletricistas, contra-regras, maquinistas... Uma maquinaria cenográfica que
requeria dos técnicos extrema habilidade e atenção.
Os bonecos, teatro de
animação e formas animadas, foram outro grande destaque na Opera Rei Leão. Com referências
de técnicas do teatro de sombras balinês e do bunraku; a Opera apontava o
lúdico ainda mais vibrante. Esse é um grande e dedicado trabalho de corpo e voz
dos atores e que davam ainda mais vida. Para quem já trabalhou com manipulação de
bonecos, sabe a difícil jornada de dar vida; e mais do que isso: se anular
enquanto persona e fornecer no seu corpo e voz camuflado a interpretação para objetos
inanimados. Isso ‘e um prato cheio a psicanálise! Deixar o ego ir, revelando-se
um novo “Eu” no boneco ou na animação de um tecido que vira rio, ou no homem
planta, na girafa ou nos urubus sendo girados por uma fina vara... Esse
treinamento não cessa com a estreia; os ajustes são diários e refere-se não somente
a espacialidade, mas ao trabalho de corpo e voz.
Assim vi muitos espetáculos
em um só. Por esse motivo acredito ser de grande valia e importância que os
jovens do Programa Preparação Para o Trabalho - PPT possam assistir a esse
Evento. Sim! Para Eles será mais do que uma Opera, será a possibilidade de
compreender e apreender conceitos que nunca educador algum terá palavras para
expressar. A Opera, esse seguimento artístico tão complexo desenvolve no jovem
atento desejo, saberes, sabores e esperanças para não somente a vida no
trabalho, mas da produtividade, da criatividade e da inovação.
Jovens do PPT 2013 sob a orientação do Educador do Eixo Cultura: André Mustafá
Além disso, ver
um Elenco formado por artistas negros, muitos Deles vindo de grandes Companhias
de Dança como o Balé Folclórico da Bahia será um motivo de encontro com a
ancestralidade viva, firmando e afirmando valores étnicos, estéticos,
sensoriais e culturais que perpassam a musica, dança, cantos de matrizes
africanas: trás para o individuo; não somente afro-brasileiro do PPT um vigor
sobre suas potencialidades, mas também a renovação do ser humano enquanto
grande produtor de conhecimento artístico, vital para qualquer povo.
A Ação Comunitária, estaria proporcionando conteúdos relacionados a historia e a cultura afro-brasileira e iria de encontro a Lei 10.639 de 2003 que torna obrigatória o ensino de conteúdos afro-brasileiros nos currículos de ensino fundamental e médio nas escolas. Toda via sabemos que esse ‘e um dever de todos e o PPT deve proporcionar a esses jovens apresentações da Opera Rei Leão; pois ‘e um revigorante alimento para a alma.
Jovens do PPT 2013 sob a orientação do Educador do Eixo Cultura: André Mustafá
Embu Guaçu, Movimento Renovador Paulo VI
A Ação Comunitária, estaria proporcionando conteúdos relacionados a historia e a cultura afro-brasileira e iria de encontro a Lei 10.639 de 2003 que torna obrigatória o ensino de conteúdos afro-brasileiros nos currículos de ensino fundamental e médio nas escolas. Toda via sabemos que esse ‘e um dever de todos e o PPT deve proporcionar a esses jovens apresentações da Opera Rei Leão; pois ‘e um revigorante alimento para a alma.
(André Mustafá formado em Direção Teatral
pela UFBA, aluno especial do mestrado Eca/USP e educador do Eixo Cultura da Ação
Comunitária/ Programa PPT 2013)
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