AMIGOS de ANDRÉ MUSTAFÁ

segunda-feira, 25 de março de 2013

André Mustafá assiste a Opera O Rei Leão


O Rei Leão

“Há mais coisas entre o céu e a terra do que possa sonhar nossa vã filosofia.” (William Shakespeare).

Assim fez Shakespeare no seu tempo e nos revela na atualidade a aurora dos sonhos que combinam cores, formas, texturas, cheiros, sabores... Esse universo lúdico e palpável foi me revelado, mais uma vez, na noite do dia 23 de março. Um caleidoscópio mágico e fantástico que é a Opera o Rei Leão, no Teatro Renault no coração de São Paulo. Isso mesmo! Fui presenteado com dois ingressos, em um sorteio, da Ação Comunitária para prestigiar a Opera. A Ação Comunitária divulgou sua promoção no Facebook; eu curti, compartilhei a promoção e assim recebi a noticia do Prêmio. E que Prêmio! Agora estou eu aqui falando a quem quiser sobre minha vivência após assistir a essa brilhante Opera. Fiquei lisonjeado e grato, pois o que descreverei aqui me faz retomar os trilhos de minhas convicções artísticas e esperanças arte-educativas junto a inúmeros jovens da periferia de São Paulo na qual estou educador do Programa de Preparação Para o Trabalho – PPT. Jovens estes que me abraçam com seus olhos havidos de conhecimento, troca, ternura e respeito. Assim foi como me senti ao ver a Opera Rei Leão: abraçado!!!

Muitos não sabem, mas o Teatro Renault, antigo Teatro Abril tem um historia de sucesso. Inaugurado em 1929, com o primeiro nome de cine-teatro Paramount, se tornou um ícone na cultura de São Paulo e de todo o Brasil, foi o primeiro na América Latina a passar filmes com imagem e som, sem contar, que já foi palco de apresentações memoráveis como as de Nat King Cole, Louis Armstrong e Maurice Chevalie e muitos nomes da musica brasileira como Edu Lobo, Capinam, Caetano Veloso, Roberto Carlos e Tom Zé. Mesmo com o incêndio em 1969 e diversas interdições não deixou de ter sua vida artística pulsante e aberta ao público. Hoje esse histórico prédio tem o apoio da Renaut e chama-se Teatro Renaut com área total de 5.500 metros quadrados, capacidade para 1.530 lugares, com palco com 210 metros quadrados por 36 metros de altura. A primeira grande estréia do novo nome, Teatro Renault acontece com a Opera “O Rei Leão”, a maior bilheteria da Broadway já visto por mais de 65 milhões de pessoas em todo o mundo.


Assim fui ao Teatro Renault, com minha calça jeans surrada, um tênis e blusa de algodão, sentei e comecei a observantes e notar detalhes de um teatro lindíssimo e muito bem estrutura com uma equipe técnica dando total suporte e conforto ao público; que diga-se de passagem lotou a noite e deu seu brilho aparte emocionando-se e interagindo a cada ato com os atores, orquestra, dançarinos e percussionistas. Todos nós ali sentados reencontramos nossa criança interior, retomamos a fotografia viva de nossa infância. As quase quatro horas de espetacularidade da Ópera nos fazia pedir biss!!! Como uma deliciosa sobremesa na casa de amigos. O Teatro Renault, a Equipe de Direção da Opera, a platéia e todo o Elenco criavam e estabelecia a cada momento um ambiente aconchegante entre amigos e essa grande família: uma comunhão do sonhar coletivamente. Do desejar o reencontro com a esperança. Assim começava o espetáculo: A África brotando do canto de Rafiki Ensemble, da dança de apresentação e dos interpretes surgindo da plateia como um passe de mágica, convidando todos a participarem do nascimento não somente do jovem leãozinho Simba, mas da alegria do viver.


“A África já não estava longe...” relembrava Picasso se entretendo com o rico imaginário que permeia esse grande continente. Me via sendo levado ao palco junto com Picasso e toda aquela bicharada. Embarcamos todos em um grande navio e cada detalhe observado pelos olhos atentos do público nos fazia atracar e repovoar nossa viva ancestralidade afro-brasileira. Quem lembrou do desenho da Disney, viu sendo impecavelmente encenada a épica aventura de Simba. Cenas difíceis como a debandada de gnus e a conversa com o espírito de seu falecido pai foram muito bem realizadas em palco. Nada ficou a desejar.

O palco abrigou em seu fosso a singela orquestra dirigida pela maestrina brasileira Vânia Pajares, que abrilhantou cena a cena, esperando, pontuando ou indo de encontro e não de confronto as sensações e ritmias de atores, dançarinos, luz, movimentação dos cenários, painéis e também não menos importante, na espera da platéia aplaudir e se emocionar. Essa é uma marca de uma orquestra viva e harmônica com o todo das cenas: músicos afinados não somente com seus instrumentos pessoais, mas com um todo desta rede do sonhar coletivamente.


A cenografia ampliava toda interpretação dos atores, dando cada ato maiores e melhores potencialidades, proporcionando não somente aos interpretes um espaço produtivo e pulsante, mas um mundo vivo em que as marcações tecnicamente existente desapareciam dando espaço a naturalidade das ações. O publico foi a cada passo se envolvendo com detalhes da cenografia; surpreendendo-se com a savana, a relva que entrava rasteira, palcos que subiam ou enladeiravam-se formando a Rocha do Reino com seu ritmo e entrada imponente. Beleza também nos telões/painéis que desciam em seu ritmo próprio, cor e confluência, trazendo dinamismo as cenas, nas entradas e saídas dos atores, nas passagens do tempo e dividindo muitas vezes o palco em espaços simultâneos em que dançarinos e atores pintava cada quadro. Destaque também para a cenografia do reino sombrio das hienas, que poderia se perder no exagero de carros alegóricos de escolas de samba, mas que abrigava espaço riquíssimo para o universo do antagonista. Aqui me permiti em um flash o desejo de saber, compreender e participar da montagem, desmontagem, transporte e manutenção dessas tantas peças cenográficas. Existe um universo de profissionais por trás que criavam outra Opera! Outro espetáculo! Coordenador de palco, eletricistas, contra-regras, maquinistas... Uma maquinaria cenográfica que requeria dos técnicos extrema habilidade e atenção.


Os bonecos, teatro de animação e formas animadas, foram outro grande destaque na Opera Rei Leão. Com referências de técnicas do teatro de sombras balinês e do bunraku; a Opera apontava o lúdico ainda mais vibrante. Esse é um grande e dedicado trabalho de corpo e voz dos atores e que davam ainda mais vida. Para quem já trabalhou com manipulação de bonecos, sabe a difícil jornada de dar vida; e mais do que isso: se anular enquanto persona e fornecer no seu corpo e voz camuflado a interpretação para objetos inanimados. Isso ‘e um prato cheio a psicanálise! Deixar o ego ir, revelando-se um novo “Eu” no boneco ou na animação de um tecido que vira rio, ou no homem planta, na girafa ou nos urubus sendo girados por uma fina vara... Esse treinamento não cessa com a estreia; os ajustes são diários e refere-se não somente a espacialidade, mas ao trabalho de corpo e voz.

Assim vi muitos espetáculos em um só. Por esse motivo acredito ser de grande valia e importância que os jovens do Programa Preparação Para o Trabalho - PPT possam assistir a esse Evento. Sim! Para Eles será mais do que uma Opera, será a possibilidade de compreender e apreender conceitos que nunca educador algum terá palavras para expressar. A Opera, esse seguimento artístico tão complexo desenvolve no jovem atento desejo, saberes, sabores e esperanças para não somente a vida no trabalho, mas da produtividade, da criatividade e da inovação.

Jovens do PPT 2013 sob a orientação do Educador do Eixo Cultura: André Mustafá

Além disso, ver um Elenco formado por artistas negros, muitos Deles vindo de grandes Companhias de Dança como o Balé Folclórico da Bahia será um motivo de encontro com a ancestralidade viva, firmando e afirmando valores étnicos, estéticos, sensoriais e culturais que perpassam a musica, dança, cantos de matrizes africanas: trás para o individuo; não somente afro-brasileiro do PPT um vigor sobre suas potencialidades, mas também a renovação do ser humano enquanto grande produtor de conhecimento artístico, vital para qualquer povo.


Jovens do PPT 2013 sob a orientação do Educador do Eixo Cultura: André Mustafá


A Ação Comunitária, estaria proporcionando conteúdos relacionados a historia e a cultura afro-brasileira e iria de encontro a Lei 10.639 de 2003 que torna obrigatória o ensino de conteúdos afro-brasileiros nos currículos de ensino fundamental e médio nas escolas. Toda via sabemos que esse ‘e um dever de todos e o PPT deve proporcionar a esses jovens apresentações da Opera Rei Leão; pois ‘e um revigorante alimento para a alma.


(André Mustafá formado em Direção Teatral pela UFBA, aluno especial do mestrado Eca/USP e educador do Eixo Cultura da Ação Comunitária/ Programa PPT 2013)

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